Setor salineiro do RN pede busca por acordo para evitar impactos da taxa de Trump

Cerca de 530 mil toneladas de sal são exportadas por ano do RN para os EUA. Foto: José Aldenir

Segmento afirma que, se taxação de 50% entrar em vigor, 4 mil empregos no Rio Grande do Norte estarão ameaçados
O setor salineiro do Rio Grande do Norte pediu oficialmente que o Governo Lula busque ao menos adiar a entrada em vigor da sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a importação de produtos brasileiros. A previsão é que a tarifa comece a valer em 1º de agosto, e os empresários potiguares pedem que a taxa caia ou pelo menos tenha a implantação adiada em 90 dias.

Diretor da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) e presidente do Sindicato da Indústria da Extração do Sal do Estado do Rio Grande do Norte (Siesal-RN), Airton Torres se reuniu nesta semana com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa.

O setor salineiro potiguar alega que será duramente afetado se a tarifa realmente entrar em vigor. De todo o sal produzido no Brasil, 98% vêm do RN. Também participaram da reunião o CEO da Salinor – maior exportadora de sal do Brasil -, Rafael Mandarino, e a diretora da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Cláudia Borges, que representou a Intersal (Porto Ilha).

Segundo Torres, o encontro permitiu demonstrar não apenas a importância do setor salineiro para a economia nacional, mas também as preocupações de outras cadeias produtivas.

“Levamos informações ao MDIC que o secretário [Márcio Elias Rosa] entendeu serem muito úteis e importantes para a elaboração de um documento que está desenvolvendo, com base nos dados de muitos setores da economia nacional, para encaminhar ao governo americano”, afirmou.

Durante o encontro, Torres defendeu a retirada da taxação ou, em caso dessa impossibilidade, o adiamento da sua vigência por, pelo menos, 90 dias, como “forma de garantir mais tempo para que o governo, com apoio do setor produtivo, possa dar prosseguimento à negociação técnica”, explicou.

Ele entregou ao secretário diversos documentos, dentre eles a carta enviada pela governadora Fátima Bezerra (PT) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) solicitando a intensificação de negociações técnicas com o governo norte-americano com o objetivo de retirar a tarifa dos produtos brasileiros ou prorrogar a sua entrada em vigor. Em nota técnica divulgada após o anúncio da taxação, o Siesal-RN alertou que a medida ameaça 4 mil empregos diretos no Semiárido Potiguar, além de afetar toda a cadeia logística e inviabilizar as operações do Porto Ilha, em Areia Branca.

Atualmente, 47% das exportações feitas pelo terminal salineiro de Areia Branca são destinados aos Estados Unidos, o que, historicamente, representa cerca de 530 mil toneladas exportadas por ano. “Se a tarifa de 50% não for retirada, o nosso sal estará fora do mercado dos Estados Unidos e este é um problema muito grande, porque a indústria salineira não tem um outro mercado que possa absorver esse volume”, concluiu Torres.

De acordo com dados do Siesal-RN, caso a medida seja mantida, o Brasil poderá se tornar dependente da importação de sal, colocando em risco a sustentabilidade da produção nacional.

A tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos pode resultar em perdas de até R$ 175 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ao longo dos próximos 10 anos, aponta um estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

Além da retração — que representaria um impacto negativo de 1,49% no PIB no longo prazo —, as taxas anunciadas pelo presidente Donald Trump têm potencial para eliminar mais 1,3 milhão de postos de trabalho no Brasil, estima a entidade.

“O agravamento da crise comercial entre Brasil e EUA representa um risco grave à estabilidade econômica e ao desenvolvimento industrial”, afirmou, em nota, a Fiemg.

No estudo, a federação mineira também estimou os impactos de uma possível retaliação brasileira ao tarifaço. Caso o governo do presidente Lula decida impor uma taxa recíproca de 50% sobre a importação de produtos norte-americanos, a queda no PIB pode chegar R$ 259 bilhões (-2,21%).

Nesse cenário, 1,9 milhão de empregos seriam impactados em até 10 anos, com uma redução de R$ 36,2 bilhões na massa salarial do País. Enquanto isso, a arrecadação de impostos cairia R$ 7,21 bilhões, de acordo com o estudo. Em nota, a Fiemg defendeu que o governo brasileiro “atue de forma firme, mas diplomática, na busca por um acordo”.

por Agora RN

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