‘No turismo sustentável, RN se posicionou melhor que outros estados’, diz Andreas Dohle, da Green Destinations

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Foto: Alex Régis

Presente no Rio Grande do Norte para o Green Destinations Latinoamérica, o presidente da Green Destinations no Brasil, Andreas Dohle, destacou o protagonismo do estado na pauta do turismo sustentável. Em entrevista, ele relembra que os dois primeiros destinos brasileiros certificados pela organização — São Miguel do Gostoso e Tibau do Sul (Praia da Pipa) — estão no RN, assim como o primeiro hotel certificado no país. Dohle ressalta que o turismo sustentável vai muito além de boas práticas pontuais. Para ser reconhecido, o destino precisa demonstrar cuidado contínuo com as pessoas, os recursos naturais e a geração de benefícios reais para a comunidade local. Ele também reforça a importância das parcerias institucionais — como com o Senac RN e entidades alemãs — no avanço de iniciativas com resultados concretos. Para Andreas, investir em sustentabilidade é uma questão de sobrevivência para os destinos turísticos: “Quem não cuida das pessoas nem da natureza acaba perdendo os turistas — e o turismo”. O Green Destinations Latinoamérica reuniu líderes de oito países no Hotel Barreira Roxa, em Natal, debatendo sobre o tema. O evento promoveu debates que vão além das boas práticas no setor, com foco no futuro das economias, das sociedades e do planeta. No centro das discussões, o Rio Grande do Norte é considerado protagonista, com três cidades no Top 100 dos destinos mais sustentáveis: São Miguel do Gostoso, Santa Cruz e Tibau do Sul. O Rio Grande do Norte sediou o Green Destinations Latinoamérica, evento que reuniu centenas de profissionais do mundo. Que avaliação você faz do evento e qual a importância desse tema “turismo sustentável” ser discutido aqui no RN?
Eu acredito que o Rio Grande do Norte já fez tanto para o turismo sustentável no Brasil que são vários argumentos que nos convenceram a trazer esse evento para cá. Por ordem, acho que primeiro a gente está aqui no Hotel Escola Barreira Rocha, que de fato foi o primeiro hotel, empreendimento, certificado pela Green Destinations no Brasil e ainda recebeu a certificação ouro. Como não bastasse também, os dois primeiros destinos turísticos do Brasil certificados pela Green Destination também foram daqui do Rio Grande do Norte: São Miguel do Gostoso e Tibau do Sul, a Praia da Pipa.

O que caracteriza um destino como sustentável a ponto de ser reconhecido pela Green Destination?
É um conjunto de critérios e temas. São seis temas e 84 critérios, algo muito abrangente para se detalhar aqui. Mas o que podemos dizer é que se trata da forma como o destino cuida das pessoas, como o destino cuida dos recursos naturais e como o destino cuida para enriquecer a população e a comunidade. Provavelmente seriam os três elementos-chave nessa história, nesse processo. E também, como o destino garante que isso seja uma política a longo prazo e não só uma festa de um dia.

Os destinos sustentáveis têm se tornado uma tendência no mundo e no Brasil?
Eu acredito que o mundo inteiro está seguindo essa tendência, agora com diferentes intensidades, mas eu confesso que, pelos parceiros que a gente tem agora, tanto o Governo do Estado quanto o Senac como um super player para nós nesse jogo, incluindo também essas prefeituras de destaque que assumem um compromisso com as práticas, com os critérios e com os temas propostos pelo Green Destinations, o Rio Grande do Norte se posicionou muito melhor do que outros estados e outras localidades neste aspecto.

Falando em parcerias, a Green Destinations desenvolve uma parceria com o Sistema Fecomércio RN. Quais os impactos para o turismo sustentável e como essas parcerias potencializam essas ações?
A gente tem sim, na verdade, são várias parcerias. Acho que o mais importante, provavelmente aqui, são com os sistemas empresariais, como o sistema SENAC em vários estados, mas também com parceiros internacionais, igual a BBW, que tem o apoio do governo da Alemanha e da cooperação internacional da Alemanha. Aqui temos ainda entidades também da Alemanha, como o Senior Expert Service. Eu acredito que o conjunto desses parceiros que fazem realmente que a gente consiga trabalhar ou gerar resultados tão profundos.

Quais as vantagens do turismo sustentável para todos os envolvidos nesse processo?
Eu acredito que, primeiro, podemos dizer de forma bem simples que a principal vantagem para todos é a própria sobrevivência. Por isso a importância da gente mudar as nossas atitudes. E eu acredito que, em muitos lugares que você, eu e qualquer pessoa visitou, com certeza parou para pensar: acho que antigamente deve ter sido muito bom esse lugar aqui, mas do jeito que está, não quero voltar mais. Por isso eu acredito que a vantagem de uma localidade que trabalha o turismo de forma sustentável é que ela pode ter expectativas de continuar recebendo turistas daqui a cinco anos, daqui a cem anos, daqui a mil anos.

Então sobreviverá mais o destino que for mais sustentável?
Alguém que não cuida bem das pessoas, nem dos seus recursos naturais, provavelmente daqui a pouco tempo já acaba com o seu turismo. O turista migra para outros lugares e esse lugar em questão, já era.

  • QUEM
    Andreas Dohle é presidente da Green Destinations no Brasil e atua há mais de 25 anos como consultor em projetos de cooperação internacional e desenvolvimento sustentável. Com experiência em mais de 20 países da Ásia, África e América Latina, tem se dedicado, nos últimos anos, ao fortalecimento do turismo sustentável, da bioeconomia e das energias renováveis no Brasil.

Sua trajetória começou como coordenador de um premiado projeto entre a Câmara de Ofícios de Essen (Alemanha) e a Federação das Associações Comerciais e Industriais de Minas Gerais. Desde então, acumulou reconhecimento por iniciativas de destaque, como o Projeto Verena, parceria entre os Europa- und Innovationscentre Trier, SENAC RN e SENAI RN para o fomento do turismo e das energias renováveis no Rio Grande do Norte. Em 2018 o projeto foi premiado num concurso nacional do Ministério de Turismo como melhor projeto na área de educação.

A expansão do programa levou à criação do Instituto DEL e à instalação da primeira filial da Green Destinations no Brasil, em Florianópolis, que Andreas representa desde 2021. É também cofundador do Instituto para o Desenvolvimento das Organizações (I.D.O. Brasil), voltado à capacitação de atores do desenvolvimento e à elaboração de estratégias públicas e privadas. Com vasta experiência em articulação institucional, Andreas é hoje uma referência nacional na promoção de destinos turísticos sustentáveis alinhados a padrões internacionais.

Por: Redação TN