O anúncio do cessar-fogo entre Israel e Irã, formalizado na última terça-feira (24), após 12 dias de guerra do estado sionista israelense contra o Irã, foi recebido por muitos como um alívio diante do risco iminente de uma guerra regional devastadora. O Irã conquistou importante vitória. Preservou, embora com significativos danos, o seu programa nuclear para fins civis, manteve a coesão nacional, preservou seu governo, a estabilidade da República, a soberania nacional, a integridade territorial, a incolumidade de suas forças armadas e da guarda revolucionária e paralisou, ao menos temporariamente a máquina de guerra dos inimigos.
Ainda há muito a verificar para atestar se o cessar-fogo significará uma paz duradoura ou se será apenas uma trégua temporária. Há muitas interrogações e especulações sobre as reais motivações do chefe da Casa Branca para anunciar o cessar-fogo depois de ter cometido um grave ato de banditismo ao bombardear instalações nucleares do Irã. Com os ataques, os Estados Unidos violaram duplamente o direito internacional. Além de atacar um país soberano, violando abertamente a Carta da ONU, abriu fogo contra instalações protegidas pela Agência Internacional de Energia Atômica.
O desenvolvimento da situação geopolítica, sobretudo no caso de uma guerra tão agressiva contra um país pacífico e independente, com evidentes reflexos na estabilidade internacional, não pode ser examinado com as lentes da retórica trumpista, que tudo vê por meio das lentes da primazia dos interesses imperialistas dos Estados Unidos e de suas exacerbadas ambições pessoais. Donald Trump, muito ao contrário da imagem que difunde, não é um artífice da paz.
O desenvolvimento da situação geopolítica, sobretudo no caso de uma guerra tão agressiva contra um país pacífico e independente, com evidentes reflexos na estabilidade internacional, não pode ser examinado com as lentes da retórica trumpista, que tudo vê por meio das lentes da primazia dos interesses imperialistas dos Estados Unidos e de suas exacerbadas ambições pessoais. Donald Trump, muito ao contrário da imagem que difunde, não é um artífice da paz.
Frente a isso, o governo Trump percebeu o risco de uma escalada incontrolável. Não se trata de súbito pacifismo, mas de puro pragmatismo: um conflito de larga escala poderia sair do controle, afetar interesses estratégicos e comprometer gravemente ainda mais a declinante potência imperialista norte-americana, com inevitáveis reflexos negativos na própria estabilidade política e social dos EUA.
Bastaram os primeiros dias de guerra para que os mercados globais reagissem. O preço do petróleo disparou, bolsas despencaram e o fantasma da inflação voltou a rondar economias centrais, inclusive os Estados Unidos. Nos círculos imperialistas instalou-se o medo pânico do fechamento do Estreito de Ormuz. Para um presidente que vende a imagem de gestor eficiente e garante que a América está “no comando”, uma crise econômica alimentada por suas próprias decisões militares seria um desastre político.
Além disso, o cálculo eleitoral é inegável. Trump sabe que parte considerável de seu apoio depende da ilusão de prosperidade interna. Um conflito prolongado, com efeitos diretos no bolso dos consumidores, poderia minar sua popularidade e abrir espaço para o avanço da oposição nas eleições legislativas de 2026.
Outro elemento que não pode ser ignorado são os sinais vindos de Tel Aviv. Apesar do tradicional alinhamento incondicional com Washington, o governo israelense sofreu um duro golpe militar e moral, com a evidência de sua torpeza que se soma aos efeitos da condenação unânime pela parte sã da Humanidade dos crimes que está cometendo contra os palestinos em Gaza.
A aceitação do cessar-fogo, mesmo com a retórica agressiva ainda em curso, foi também uma necessidade para o governo de Israel, que precisa salvar-se do colapso.
Outro fator central para entender o recuo de Trump é o avanço geopolítico de China e Rússia na região. O gigante socialista asiático, que já vinha se posicionando como mediador e defensor da estabilidade no Oriente Médio, ganhou espaço político diante da agressividade ocidental. Moscou, por sua vez, fortaleceu suas relações com o Irã.
Trump sabe que um conflito prolongado e descontrolado só serviria para acelerar o declínio dos EUA e abrir ainda mais espaço para os rivais estratégicos. Apesar da retórica belicista, o governo americano enfrenta limitações concretas. Décadas de guerras fracassadas no Oriente Médio deixaram um legado de cansaço, rejeição interna a novas aventuras militares e vulnerabilidade estratégica. As bases americanas na região estão ao alcance dos mísseis iranianos, e o custo humano e material de um conflito direto seria altíssimo.
Trump, que se vende como “presidente da força”, sabe que iniciar uma guerra cujas consequências não pode controlar seria politicamente suicida. Por isso, apesar da retórica, foi obrigado a recuar.
É fundamental compreender que o cessar-fogo não resolve as causas profundas da agressão permanente dos sionistas ao Irã e demais países do Oriente Médio. A guerra de Israel e dos EUA contra o Irã segue latente. As disputas geopolíticas, os interesses estratégicos e as ambições regionais continuam a alimentar um cenário de instabilidade crônica.
A região ainda está distante da paz duradoura. Por isso, os países que se empenham pela multipolaridade, por um novo equilíbrio do mundo, os povos e os movimentos progressistas devem manter o olhar crítico e vigilante. A paz verdadeira não virá das potências imperialistas. Só a mobilização dos povos, a luta constante pela autodeterminação, justiça e paz podem deter a mão criminosa do imperialismo e do sionismo.
Por José Reinaldo Carvalho Brasil 247