O BB (Banco do Brasil) registrou nesta sexta-feira (1º) uma perda de R$ 7,7 bilhões em valor de mercado. As ações ordinárias (BBAS3) recuaram 6,85% no fechamento –estão cotadas a R$ 18,35 cada.
A instituição encerrou a semana com valor de R$ 104,75 bilhões. É o menor patamar desde 16 de janeiro de 2023, quando o banco era avaliado em R$ 101,62 bilhões. Os dados são de Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
Trata-se da maior desvalorização diária em 2 anos. O pico do valor de mercado do BB se deu em 6 de fevereiro de 2024, quando o banco era avaliado em R$ 170,09 bilhões. De lá para cá, houve uma queda acumulada de R$ 65,34 bilhões.
“O recuo das ações do Banco do Brasil nesta semana acende um sinal de alerta sobre a confiança do mercado em relação à instituição, e, em sentido mais amplo, ao setor bancário tradicional. O retorno ao nível de valor de mercado observado no início de 2023 mostra que o banco está, aos olhos do mercado, praticamente no ponto de partida após quase dois anos de volatilidade”, afirma Einar.
Analistas do mercado financeiro projetam ganhos mais modestos para o Banco do Brasil no 2º trimestre de 2025. O BTG Pactual publicou um relatório nesta 6ª feira (1º.ago) em que revisou para baixo em 23% o lucro líquido que o BB terá –agora, estima R$ 5 bilhões.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (1º) que pretende conversar com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, na próxima semana, para tratar das tarifas de 50% impostas por Washington a parte das exportações brasileiras. Segundo o ministro, o encontro pode abrir caminho para um eventual diálogo direto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano, Donald Trump.
“Ainda não há data definida, mas essa reunião é essencial para esclarecer os impactos da medida e retomar os canais de negociação”, disse Haddad. Ele destacou que o governo brasileiro considera a decisão dos EUA unilateral e que pretende apresentar argumentos técnicos sobre os impactos econômicos e legais da medida.
Trump afirmou que Lula pode ligar “quando quiser” para discutir as tarifas. A declaração foi dada a jornalistas no jardim da Casa Branca. “Acho ótimo. A recíproca também é verdadeira. O presidente Lula estaria disposto a receber um telefonema dele quando ele quiser”, respondeu Haddad ao ser questionado sobre a fala do líder americano.
A sobretaxa, decretada no final de julho, foi justificada por Trump como uma resposta a ações “incomuns” e “extraordinárias” do governo brasileiro, classificadas como ameaça à segurança nacional dos EUA. Apesar disso, cerca de 44,6% das exportações do Brasil foram poupadas da tarifa, incluindo produtos como petróleo, celulose, suco de laranja, minério de ferro e aviões.
Além do impacto comercial, a agenda entre Brasil e Estados Unidos pode incluir a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O governo americano impôs sanções ao magistrado no mesmo decreto que anunciou o tarifaço. Haddad afirmou que pretende esclarecer a Bessent como funciona o sistema judiciário brasileiro e rebater o que chamou de “desinformação” sobre o tema. O presidente Lula também se manifestou nas redes sociais nesta sexta. Disse que o Brasil “sempre esteve aberto ao diálogo” e que continuará defendendo sua economia, empresas e trabalhadores. “Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições”, escreveu.
Paralelamente, o governo federal discute medidas para mitigar os impactos da tarifa. No Ceará, por exemplo, o governador Elmano de Freitas e Haddad avaliaram a possibilidade de que o Estado e prefeituras comprem alimentos prejudicados pela medida, como peixes e frutas, para uso em programas sociais. Ainda não há previsão de um encontro presencial entre Lula e Trump. Segundo Haddad, tudo dependerá dos desdobramentos da conversa com o secretário do Tesouro americano.
Mistura de etanol na gasolina sobe para 30% e de biodiesel no diesel vai a 15%; impacto no preço deve variar até R$ 0,02 por litro.
Entram em vigor nesta sexta-feira (1º) os novos percentuais de biocombustíveis nos combustíveis fósseis, conforme decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tomada no mês passado.
A mistura de etanol na gasolina passa de 27% para 30%
enquanto o percentual de biodiesel no diesel sobe de 14% para 15%.
O governo justifica a mudança dizendo que os conflitos no Oriente Médio geram instabilidade sobre o preço do petróleo e podem levar a aumentos repentinos no preço do combustível no Brasil. Com o aumento de biocombustíveis — produzidos no Brasil — nas misturas, as oscilações ficam menores. O país quer diminuir a dependência externa.
O biocombustível também é menos poluente que combustível à base de petróleo.
Impacto no bolso
A mudança deve ter impacto direto no bolso dos consumidores. Segundo Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o aumento na proporção de etanol na gasolina pode gerar uma leve redução no preço, de até R$ 0,02 por litro, devido à alta oferta do produto durante o pico da safra da cana-de-açúcar.
“A tendência, no entanto, é de que esse cenário mude após o fim da safra, com possível alta nos preços”, alerta.
No caso do biodiesel, o efeito é inverso: o aumento de 1 ponto percentual de biodiesel na mistura deve elevar o preço do diesel em cerca de R$ 0,02 por litro.
“O biodiesel custa quase o dobro do diesel de petróleo. Com a nova mistura, esse custo extra será repassado ao consumidor”, afirma Araújo.
Apesar do impacto, o diretor-superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, minimiza o aumento.
“Essa diferença tende a ser imperceptível, considerando que, em um mesmo bairro, é comum encontrar variações superiores a R$ 0,20 por litro entre os postos”, diz.
Para Tokarski o aumento da mistura elevará a produção em cerca de 60 milhões de litros de biodiesel até o fim de 2025.
Entre os principais produtos exportados do RN para os EUA que serão taxados, estão pescados, sal marinho, frutas e confeitos. Só óleo de petróleo e pedras de construção ficaram de fora
Dos dez produtos mais exportados do Rio Grande do Norte para os Estados Unidos no ano passado, só dois escaparam do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump. São eles: óleos de petróleo e pedras de construção, como o granito. Os demais produtos passarão a ser submetidos a uma taxa de 50%, o que praticamente inviabilizará a entrada desses itens potiguares no mercado americano.
Os dois produtos que escaparam do tarifaço estão em uma lista de 694 exceções que o governo americano definiu para a sobretaxa sobre as mercadorias brasileiras. Fora esses itens, o restante vai receber uma tarifa adicional de 40%, elevando o valor total da sobretaxa para 50% —considerando os 10% anunciados em abril. As taxas devem entrar em vigor em 6 de agosto, segundo anúncio da Casa Branca.
Entre os principais produtos exportados do RN para os EUA que serão taxados, estão pescados, sal marinho, frutas e confeitos (como caramelos, pirulitos e pastilhas). A Casa Branca informou que a castanha-do-pará está entre as exceções – há uma dúvida se isso inclui castanha de caju, que está também entre os itens mais exportados do RN para os EUA.
Em 2024, no total, o RN exportou US$ 67,1 milhões em produtos para os Estados Unidos. Neste ano, antes do anúncio do tarifaço, as vendas estavam em alta. De janeiro a junho de 2025, segundo a Federação das Indústrias (Fiern), foram exportados US$ exatamente 67,1 milhões – ou seja, em apenas seis meses, o volume de exportação foi equivalente ao ano passado inteiro.
Drama dos setores de sal e pesca
Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), sal, pescados e confeitos representam cerca de 80% de tudo o que é exportado do Estado para o mercado americano. “O desafio agora é buscar uma reversão nesse pequeno período (até 6 de agosto). A gente tem essa esperança, acredita que isso possa ser resolvido com uma relação diplomática inteligente”, afirmou o presidente da Fiern, Roberto Serquiz, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira 31.
No caso específico do sal, quase metade do que é exportado do RN para fora do Brasil vai para os Estados Unidos. São cerca de 550 mil toneladas por ano, segundo o Sindicato da Indústria do Sal do RN (Siesal).
O presidente do Siesal, Airton Torres, afirma que o setor emprega 4 mil pessoas diretamente e que essas vagas estão ameaçadas. Ele conta que há poucas opções de novos mercados para o sal potiguar. Por se tratar de produto de baixo valor, a mercadoria não é competitiva para exportar para longas distâncias. Além disso, a Europa, que poderia ser uma opção, já é autossuficiente em sal e importa pouco.
A pesca também passa por uma situação delicada. Segundo Arimar França Filho, presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do RN (Sindipesca), o segmento contrata cerca de 1.500 trabalhadores – que também estão com os empregos ameaçados. Ele afirma que um potencial mercado para os pescados brasileiros seria a Europa, mas o continente aplica um embargo aos produtos brasileiros desde 2018. “Precisa de um trabalho do Governo Federal para que isso seja mudado”, declarou Arimar, em coletiva de imprensa também nesta quinta-feira.
Enquanto uma solução não é apresentada, embarcações já não vão para o mar nos próximos dias. Ele diz também que o próprio abastecimento interno poderá ser afetado, pois todo o setor fica prejudicado com a saída do mercado principal (os EUA).
“A exportação para os Estados Unidos é responsável por 80% da exportação de pescados do Rio Grande do Norte. No caso da pesca industrial (oceânica, de atum) é 100% Estados Unidos. Além disso, os EUA representam entre 70% e 80% do faturamento das empresas. O tarifaço vai inviabilizar a saída dos barcos. Nessa próxima rodada, a maioria das embarcações já estão em terra. E vai inviabilizar, porque os outros 30% do faturamento eram agregados à exportação. Se não tem mercado principal, não tem como as embarcações saírem”, declarou Arimar.
Sobre possíveis demissões, ele afirma que o momento é de cautela. “A gente não quer demitir. A gente está conversando com a Delegacia Regional do Trabalho, discutindo uma forma de fazer afastamento, treinamento para o pessoal por um período. A gente acredita que, nos próximos meses, isso será revertido. Ou ao menos um pouco aliviado”, concluiu.
Entenda a taxação
A sobretaxa de 50%, que havia sido anunciada por Donald Trump no dia 9 de julho, foi confirmada nesta quarta-feira 30 através de um decreto presidencial. Está entre as maiores implementadas para países que exportam aos EUA e possui motivação mais política que econômica.
O decreto que implementa as tarifas cita o nome de Jair Bolsonaro (PL) e diz que o ex-presidente —réu no STF (Supremo Tribunal Federal) em processo que apura trama golpista em 2022— sofre perseguição da Justiça brasileira.
Em comunicado, a Casa Branca disse que a medida oficializada nesta quarta visa “lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
“Membros do governo do Brasil têm tomado medidas que interferem na economia dos EUA, infringem os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos norte-americanos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas.”
O texto diz ainda que políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos EUA. Também acusa o Brasil de violar direitos humanos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaconvocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, em Brasília, na tarde desta quarta-feira, 30. O encontro visa debater o impacto da nova sobretaxa imposta pelo governo de Donald Trump sobre produtos exportados pelo Brasil.
A medida, anunciada pela Casa Branca, eleva a tarifa total para 50%, e é justificada pelos Estados Unidos como uma resposta a ações do governo brasileiro que supostamente ameaçam a segurança e a economia norte-americana, incluindo menções à situação política de Jair Bolsonaro e ao ministro Alexandre de Moraes.
Reações à guerra tarifária americana
O documento assinado pelo presidente Donald Trump estabelece uma tarifa adicional de 40%, elevando a alíquota total para 50% sobre produtos brasileiros exportados. As novas taxas entrarão em vigor em sete dias, a partir da data de publicação do decreto, que ocorreu nesta quarta-feira. O documento prevê isenções para certas categorias de produtos, como alimentos específicos, minérios, bens de energia e artigos relacionados à aviação civil.
A justificativa oficial para esta imposição, de acordo com o comunicado da Casa Branca, é a necessidade de “lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
O texto menciona explicitamente o nome de Jair Bolsonaro (PL), afirmando que ele sofre perseguição por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Resposta brasileira e reunião de emergência
A pauta da reunião emergencial convocada pelo presidente Lula terá como prioridade uma avaliação detalhada da extensão da decisão norte-americana e a formulação de estratégias para mitigar seus efeitos adversos no Brasil.
O governo espera identificar medidas para auxiliar setores econômicos diretamente afetados e garantir a manutenção de postos de trabalho. A crise pode afetar principalmente as multinacionais que possuem fábricas no território brasileiro, conforme levantamentos iniciais.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem desempenhado um papel ativo no contato com o setor empresarial e nas tentativas de negociação com as autoridades americanas, é um dos participantes confirmados no encontro.
A lista de convidados inclui os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União). Em razão de viagem aos Estados Unidos, o chanceler Mauro Vieira será representado por um secretário do Itamaraty.
Os presidentes das 4 principais montadoras que atuam no Brasil escreveram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 15 de junho de 2025, falando sobre o forte impacto que uma medida pronta para ser adotada causará no setor. A mando do Palácio do Planalto e sob coordenação do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a administração petista pretende baixar uma norma para incentivar a produção de carros cujas peças e componentes são 100% produzidos no exterior.
As empresas mais beneficiadas devem ser as montadoras chinesas. Por esse sistema conhecido como SKD (Semi Knocked Down), a empresa quase nunca contrata fornecedores no Brasil e a geração de empregos é muito pequena.
Assinaram a carta:
Ciro Possobom, da Volkswagen;
Evandro Maggio, presidente da Toyota;
Emanuele Cappellano, da Stellantis;
Santiago Chamorro, da GM (General Motors).
IMPACTOS
As montadoras brasileiras haviam anunciado recentemente cerca de R$ 180 bilhões de investimentos no Brasil em 5 anos, dos quais R$ 130 bilhões para o desenvolvimento e produção de veículos e outros R$ 50 bilhões para o parque de autopeças. Essa cifra será cortada em pelo menos R$ 60 bilhões.
As empresas estimam ainda que deixarão de contratar 10.000 trabalhadores e que 5.000 empregados atuais poderão ser demitidos.
A carta ressalta que o impacto não se restringiria apenas às montadoras. Para cada trabalhador demitido nessas empresas, outros 10 empregos podem ser perdidos na rede de fornecedores, ampliando o efeito negativo sobre toda a cadeia produtiva automotiva.
Ou seja, o impacto nesse caso tende a ser multiplicado por 10 na cadeia de sistemistas, com um corte total de 50.000 postos de trabalho.
“Essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra”, diz trecho do documento.
Os executivos defendem que a política industrial brasileira privilegie a produção local, “vetando privilégios para a importação de veículos desmontados ou produzidos no exterior com subsídios”.
Sem resposta
Lula não responde à carta conjunta da Volkswagen, Toyota, General Motors e Stellantis. A correspondência também foi enviada para Rui Costa e para Geraldo Alckmin (PSB), que é vice-presidente da República e também ministro da Indústria e do Comércio.
Rui Costa é político que fez carreira na Bahia, onde foi governador por 2 mandatos. É na Bahia que está o grande investimento da chinesa BYD, que vai se beneficiar da medida que está para ser editada pelo governo Lula e incentivar a produção de carros no sistema SKD.
Medidas em análise no governo
O Gecex-Camex (Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior), colegiado formado por integrantes de 11 ministérios do governo Lula, realizará uma reunião extraordinária na 4ª feira (30.jul.2025) para deliberar sobre medidas que podem beneficiar a indústria chinesa de automóveis no Brasil. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo no domingo (27.jul).
Segundo a publicação, os pleitos que serão analisados são da montadora chinesa BYD. Em fevereiro, a empresa pediu ao governo a redução de imposto de importação de kits SKD e CKD (Completely Knocked Down), de 5% no caso dos carros elétricos e 10% no caso dos híbridos. As taxas atuais são, respectivamente, de 18% e 20%.
Quando o assunto é descarbonização, o Rio Grande do Norte desponta como uma potência nacional, com protagonismo em áreas como energias renováveis, graças ao potencial local e às pesquisas encabeçadas por diversos atores potiguares. Mas o estado também é pioneiro em soluções sustentáveis para a aviação, um setor crucial na redução dos impactos das mudanças climáticas em todo o mundo. O destaque, nesse caso, é fruto do trabalho de uma equipe do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), em Natal, que desenvolveu um combustível sustentável para aviação (SAF) a partir de glicerina.
Os resultados do projeto — a primeira planta-piloto para produção de SAF no Brasil — foram entregues no ano passado. O trabalho é coordenado pela pesquisadora Fabíola Correia, responsável pelos estudos realizados no Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados (H2CA) do ISI-ER. O H2CA foi inaugurado em setembro de 2023 pelo Instituto Senai e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável. Fabíola explica que as pesquisas sobre combustíveis começaram em 2008, numa época em que a urgência climática era pouco discutida, com processos voltados à chamada gasolina e diesel verdes.
Os estudos sobre SAF começaram apenas em 2017, impulsionados pelas demandas de descarbonização, por iniciativa do ISI-ER e da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV), da qual Fabíola faz parte. SAF é a sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuels, um combustível alternativo para aeronaves produzido a partir de fontes que atendem a padrões de sustentabilidade. As opções de matéria-prima são inúmeras, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, a exemplo de resíduos da agricultura, óleo usado de cozinha, gorduras, cana-de-açúcar e milho, entre outras.
No projeto desenvolvido pelo ISI-ER, a matéria-prima utilizada foi a glicerina, fruto de um estudo anterior. “A glicerina é um resíduo da indústria de biodiesel, um subproduto com pouco valor agregado que às vezes se torna até um problema devido à alta produção. Buscamos trabalhar dentro dos conceitos de economia circular, trazendo subprodutos industriais de menor valor para produzir matéria-prima de baixo custo e convertê-la em um produto de alto valor”, afirma Fabíola.
Em 2021, a glicerina começou a ser estudada no ISI-ER em parceria com a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), a Cooperação Técnica Alemã. “O órgão nos identificou justamente por conta do nosso histórico em pesquisas com combustíveis desde 2008”, conta a pesquisadora. Da parceria firmada em 2021 surgiu o H2CA, dois anos depois, o que permitiu elevar o grau de maturidade tecnológica do projeto para um nível mais próximo da indústria, chamado TRL (Technology Readiness Level).
A escala TRL varia de 1 a 9. Quanto maior o número, mais próxima a tecnologia está do nível industrial. “Com a planta-piloto, saímos de um TRL 4 para 6 e 7. Isso é importante porque agora conseguimos validar nossos processos sem a preocupação de fazer mudanças ao apresentar os resultados à indústria, como acontecia em pesquisas com menor TRL”, conta Fabíola Correia.
Produção
A produção de combustíveis avançados, como é o caso do SAF, requer um gás de síntese produzido a partir da junção de uma molécula de hidrogênio (H) e uma molécula de monóxido de carbono (CO). A extração desses dois gases na glicerina se dá por meio de um processo termoquímico. Nele, o foco é o uso adequado da temperatura e de um catalisador para retirar da matéria-prima (a glicerina é formada por carbono, hidrogênio e oxigênio) a molécula de hidrogênio de CO, que passará, a partir daí, para uma nova fase, chamada de síntese de Fischer-Tropsch. Esta é uma tecnologia alemã da década de 1930 utilizada durante a Segunda Guerra Mundial que transformava carvão em diesel. Com a tecnologia, hidrogênio e CO sofrem um rearranjo para formar a cadeia do combustível composta pelos dois gases.
Pesquisas sobre SAF começaram em 2017, no ISI-ER | Foto: Magnus Nascimento
“Esse rearranjo é alcançado com pressão, temperatura e catalisadores adequados para obter a cadeia do querosene de aviação como SAF e também como diesel. No caso do SAF, são necessários ainda dois outros processos, porque a cadeia de hidrogênio e CO possui um pouco de oxigênio, o que não pode acontecer, já que o combustível precisa ser idêntico ao querosene fóssil. Isso é fundamental para que não seja necessário alterar a infraestrutura das aeronaves”, pontua Fabíola Correia.
Os processos seguintes consistem em extrair o oxigênio e, em seguida, realizar a isomerização — etapa em que a molécula de hidrogênio e CO é igualada à molécula do combustível fóssil. O projeto finalizado foi entregue à GIZ, junto com um estudo de viabilidade técnica e econômica e o design de uma unidade industrial. Segundo Fabíola, entretanto, a chegada do produto ao mercado depende de políticas públicas que ainda precisam ser desenvolvidas.
“Nós já temos regulação por parte da ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], mas o SAF é algo novo, que requer tempo para produção. Há diversas iniciativas, como a construção de plantas voltadas a esse fim, com o objetivo de atender o País, considerando a Lei do Combustível do Futuro, recém-aprovada e que estabelece a obrigatoriedade do uso de SAF para reduzir a emissão de carbono a partir de 2027. O Brasil terá que correr bastante até lá, então o importante é criar iniciativas para produção, uma vez que regulação nós já temos”, afirma a pesquisadora.
Contudo, ela reconhece: as iniciativas dependem de incentivos ainda inexistentes.
Fabíola lembra que todo novo produto, especialmente se tratando de biocombustíveis, vem acompanhado de altos custos. Por isso, ela destaca a necessidade de benefícios para evitar o encarecimento do setor de aviação. “A depender da rota, o SAF poderá elevar em até cinco vezes os custos. Sem incentivos fiscais, isso será remetido ao consumidor final, o que é inadmissível. Essa é nossa principal barreira no Brasil. É preciso também ampliar as tecnologias para a produção – hoje são 11 certificadas no País e há outras em aprovação”, frisa.
A pesquisadora reforça que é necessário expandir a certificação de tecnologias, considerando a diversidade de matérias-primas disponíveis no País, …
Um funcionário sênior da administração de Donald Trump afirmou que não vê possibilidade de qualquer negociação adiar a entrada em vigor das tarifas de 50% contra o Brasil a partir do dia 1º de agosto. Isso porque até o momento o país não apresentou nada “sério” a ser negociado. O argumento é o mesmo ventilado nos bastidores pela Casa Branca ontem, de que nenhum avanço aconteceu porque os brasileiros não se “engajaram suficientemente” para isso.
Questionado sobre qual seria o engajamento esperado do Brasil neste momento, este funcionário, que pediu anonimato para comentar o assunto por não ter autorização para falar sobre o tema publicamente, afirmou que a discussão não pode se pautar apenas em comércio, já que a preocupação primordial de Trump seria outra.
“O Itamaraty minimizou as preocupações de Washington sobre o ex-presidente Bolsonaro e a liberdade de expressão, em detrimento de seu governo e de seu povo. O assunto agora se agravou muito além das expectativas deles”, afirmou o funcionário da gestão Trump.
Na carta em que anunciou as tarifas contra o Brasil, em 9 de julho, Trump chamou de “caça às bruxas” o processo judicial a que o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) responde. Entre outros crimes, ele é acusado de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito —os quais nega. Além disso, Trump acusava o STF (Supremo Tribunal Federal) de censurar cidadãos americanos e prejudicar os interesses comerciais de big techs americanas. Desde a divulgação da carta, a gestão Trump e o próprio presidente repetiram diversas vezes o argumento de que Bolsonaro é um perseguido político.
As declarações ecoam o teor da campanha feita há meses em Washington pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comentarista político Paulo Figueiredo por punições ao Brasil que possam forçar as autoridades do país a aprovar uma anistia a Bolsonaro, a seus aliados e a seus apoiadores.
Além das tarifas, os EUA iniciaram uma investigação por supostas práticas desleais de comércio do Brasil, e o Departamento de Estado anunciou restrição de acesso ao território americano ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro, e ao que chamou de “seus aliados da corte”, em referência a outros sete ministros e a Paulo Gonet, procurador-geral da República. Mas novas ações de Washington são esperadas, tanto por bolsonaristas como pelo Itamaraty. Uma fonte do governo americano afirmou à coluna já ter visto o formulário escrito para impor sanções financeiras da Lei Global Magnitsky contra Moraes.
“O presidente Trump foi claro e o governo americano dispõe de uma ampla gama de ferramentas que pode — e irá — usar para promover suas prioridades. Moraes e sua turma apenas testemunharam o início disso. Isso está longe de acabar”, disse esta fonte do governo Trump.
Até o momento, Trump escolheu não abrir conversas entre a Casa Branca e o Planalto para tentar diminuir a crise bilateral. O governo brasileiro segue fazendo esforços para sensibilizar a gestão do republicano e aposta especialmente em pesos pesados do PIB dos EUA, que terão seus negócios afetados pelo tarifaço, para desbloquear o canal.
Trump já mobilizou tarifas como instrumento de pressão diplomática e comercial contra quase duas centenas de países, entre aliados e adversários. Mas em nenhum desses casos, o republicano exigiu interferência no Judiciário do país para abrir negociação. Até o momento, o governo brasileiro não fez e afirma que não fará concessões políticas ou judiciais aos Estados Unidos. Em Brasília, tal condição para a negociação é vista como extorsão.
“O Brasil não vai negociar sua soberania ou a independência de Poderes com quem quer que seja. Com nenhum outro país do mundo com o qual estão negociando tarifas, os EUA fizeram exigências como esta, de interferência aberta e indevida em assuntos de ordem doméstica. O Brasil segue disposto a negociar nos temas em que uma negociação é possível, mas não aceitará ingerência estrangeira em questões internas. A independência do Poder Judiciário vale tanto nos EUA quanto no Brasil”, afirmou um embaixador brasileiro com conhecimento direto das negociações.
O embaixador Tom Shannon, que liderou a embaixada americana em Washington durante a gestão de Barack Obama, afirma à coluna que a resposta do Itamaraty até o momento foi “óbvia”, já que o Brasil não poderia ceder ao que considerou “um movimento sem precedentes de um presidente americano de usar tarifas para abertamente interferir em assuntos políticos”.
Segundo Shannon, que também é ex-subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, a situação agora “é muito ruim” e o interesse de Trump é “100% em Bolsonaro”. “Brasil está pronto para negociar, mas não existe nenhum interlocutor com quem o país possa ter conversas significativas agora. Trump crê que conseguirá forçar o Brasil a recuar no caso Bolsonaro. Não irá conseguir atingir seu objetivo mas até se convencer disso, a grande perdedora será a relação bilateral”, diz Shannon.
Em um artigo de opinião publicado há dois dias, a revista britânica The Economist afirmou que, “desde o fim da Guerra Fria”, os EUA “raramente” interferiram “tão profundamente” em um país latino-americano como Trump tem tentado fazer com a taxa de 50% direcionada ao Brasil por motivos políticos. A publicação porém destaca que, em vez de fortalecer a direita para a disputa eleitoral de 2026, a medida da Casa Branca até agora fortaleceu a posição de Lula, que deve disputar a reeleição.
A zona Norte de Natal, conhecida como uma das áreas mais populosas da cidade, vem consolidando um novo momento econômico com o fortalecimento do setor gastronômico. Bares, restaurantes e lanchonetes se multiplicam em avenidas como Paulistana, Maranguape e Itapetinga – todas no bairro Potengi – impulsionados por mudanças no Plano Diretor e pelo aumento da procura por empreendimentos de alimentação fora do lar. Dados fornecidos pelo Sebrae apontam que entre 2020 e 2025 o número de empresas do setor na região saltou de 185 para 522, uma variação de 182%. A expansão tem sido acompanhada por investimentos em qualificação, marketing e experiência do cliente, o que são diferenciais para os negócios locais.
Entre os nomes que se destacam nesse movimento de transformação está Matt Dantas, idealizador e proprietário do Seu Nelson na Brasa, uma steakhouse e hamburgueria localizada na Av. Maranguape. Fundado em 2021, o negócio começou de forma despretensiosa, com a venda de hambúrgueres para amigos e vizinhos durante a pandemia. Com o tempo, a proposta evoluiu para um espaço que reúne hambúrguer, petisco e costela, tudo na brasa, em um ambiente pensado para toda a família. Hoje, a marca conta com três unidades, entre zona Norte, Areia Preta e Parnamirim, e emprega diretamente cerca de 50 pessoas.
Com a inspiração na cozinha do avô, Seu Nelson, e a vontade de criar um espaço com identidade própria, Matt construiu um modelo de negócio centrado na experiência gastronômica. “Eu acho que meu diferencial é que tudo aqui é uma criação realmente nossa. É focar nas coisas que eu gosto, nas coisas que meu avô fazia, mas principalmente perguntar aos clientes se está bom ou não. Nós escutamos o cliente para fornecer aquilo que ele quer ter, a experiência que ele quer ter do que seja feito através da nossa churrasqueira”, conta.
A trajetória do Seu Nelson na Brasa reflete a mudança no comportamento do consumidor da região, que passou a valorizar mais os estabelecimentos locais, especialmente devido aos problemas de mobilidade que dificultam o trânsito ente a zona Norte e outras regiões administrativas da cidade. “Quando houve problemas com a ponte, muita gente que ia para outras zonas passou a consumir aqui. Hoje, o público mora, trabalha e se diverte na zona Norte”, avalia.
A história de Matt se entrelaça com a própria evolução da zona Norte como destino gastronômico. O Seu Nelson na Brasa hoje é um dos principais pontos de encontro da região, com movimentação de aproximadamente 600 pessoas por noite durante os fins de semana e um ticket médio superior às demais unidades. Enquanto os clientes de Areia Preta e Parnamirim gastam cerca de R$ 40,00, na unidade da zona Norte o valor costuma ser superior a R$ 100,00.
“Eu sempre ouvi que aqui não ia dar certo, que ninguém pagaria R$ 20,00 em um hambúrguer aqui. Mas eu acreditava no potencial do público da zona Norte, sempre quis oferecer algo de qualidade, como se fosse um churrasco de família, e isso se tornou nosso diferencial. Tudo gira em torno da brasa, das receitas que aprendi com meu avô e do contato direto com os clientes”, conta Matt.
Segundo Thales Medeiros, gerente da Agência Sebrae Grande Natal, esse cenário de crescimento de negócios demonstra o potencial econômico da região. “A gente percebe que é um espaço promissor de desenvolvimento de negócios na cadeia de alimentos e bebidas, com uma certa variação entre abertura e fechamento de empresa, com saldo positivo de mais de 50 empresas”, afirma.
A Jacuba Lanches, de César Kemps, é outro negócio que exemplifica essa transformação. Inaugurada em dezembro de 2021, a empresa nasceu para gerar renda à família e rapidamente cresceu, tornando-se um dos pontos mais movimentados da região e totalizando 11 funcionários. “Antigamente, tudo tinha que ser resolvido no centro ou na zona Sul. Hoje, o pessoal prefere ficar por aqui mesmo. Isso ajudou bastante, porque quem mora aqui quer resolver tudo perto de casa”, relata.
A aposta na qualidade também tem sido um diferencial. Situada nas proximidades da Av. Dr. João Medeiros Filho, o empreendimento recebe desde pessoas que circulam na região até os clientes fiéis. “Eu comecei com salgados comuns, mas percebi que precisava oferecer algo melhor. Foi aí que comecei a trabalhar com receitas diferenciadas, como o pastel de Tangará e uma coxinha de receita própria, que alavancaram as vendas”, diz. Hoje o espaço conta com uma circulação média de 200 pessoas por dia em loja física, além de cerca de 70 vendas através do delivery.
Essas ações são reiteradas pelo Sebrae como boas práticas que favorecem o fortalecimento dos negócios na região. “Na experiência com o cliente, nós também estamos dialogando com ele, estamos interessados em atender às suas reais necessidades, e por isso a gente também vai sempre procurar entender o que seria mais interessante para o cliente, o que ele procura mais em termos de serviços, de experiência, o que ele está disposto a pagar também”, considera Thales Medeiros.
Plano Diretor impulsiona investimentos
O novo Plano Diretor de Natal tem sido apontado como um dos principais motores da retomada de investimentos na cidade, especialmente na zona Norte. As alterações nas regras urbanísticas e a desburocratização dos licenciamentos abriram caminho para a multiplicação de empreendimentos, incluindo novos bares, restaurantes e projetos imobiliários. A região, que já se destaca pela força do comércio e do setor gastronômico, vem recebendo atenção crescente do mercado e da construção civil.
“A primeira mudança significativa que a gente tinha convicção que em todas as regiões administrativas ia aumentar, mas especialmente na zona Norte e zona Sul, é o uso misto em todas as regiões administrativas. Ou seja, qualquer área, qualquer lote do município de Natal, você pode construir tanto a parte comercial quanto a parte residencial”, explica Thiago Mesquita, secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb).
Entre os avanços urbanísticos, o secretário destaca que a zona Norte foi beneficiada com maior potencial construtivo e incentivos em eixos de mobilidade, como as avenidas João Medeiros Filho, Pompeia e Paulistana. “Na …
Exportadores ponderam que não há demanda suficiente no mercado para absorver produção brasileira
Escoar produtos para mercados alternativos pode ser uma saída para as empresas enfrentarem o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Alguns problemas são apontados, contudo, sobre essa estratégia.
Uma das questões é adaptar os produtos que seriam direcionados para um lugar às normas do outro, e, mesmo assim, abrir as portas para novos parceiros comerciais é uma missão que demanda tempo, negociação e confiança entre as partes, o que, segundo exportadores ouvidos pela reportagem, torna esta uma alternativa para o médio/longo prazo.
Para os produtores de frutas e suco, há uma questão ainda “maior”: o volume produzido pelos brasileiros é tão grande que não há mercado para direcionar estes itens.
“Não dá para, com os volumes que o Brasil produz, sair com uma sacolinha oferecendo para outros mercados”, pontua Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).
Além disso, se os produtos forem direcionados para o consumo interno, Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), fala em “uma quantidade tão grande que vai colapsar o mercado”.
Ariosto da Riva Neto, CEO da marca Xandô e da processadora Sucorrico, afirma que, “supondo que reduza o consumo dos Estados Unidos em 50%, são 40 milhões de caixas que o Brasil produziria e que ele deixa de produzir. A indústria tem como opção ou processar e mandar para outro mercado ou deixar no estoque, só que hoje não tem mercado para isso. Acho que a opção vai ser de não processar, o volume é muito grande”.