
Rachas sobre governo Lula e 2026 marcam federação União–PP antes de oficialização
Antes mesmo de sair do papel, a federação entre União Brasil e PP já enfrenta conflitos públicos e divisões sobre a relação com o governo Lula e o cenário eleitoral de 2026. As duas siglas negociam desde 2023 para formar uma superaliança no Congresso, mas o processo tem se arrastado e hoje está marcado por disputas internas e troca de farpas entre dirigentes.
Com raízes na antiga Arena — partido que deu sustentação ao regime militar — União e PP anunciaram oficialmente a intenção de formar a federação em abril de 2025, dois anos após o início das tratativas. Em agosto, houve um novo ato para marcar a aprovação do acordo pelas legendas, mas, até agora, nenhum pedido formal de registro foi encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Enquanto a parte burocrática não avança, o clima político azedou. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), único nome colocado como pré-candidato à Presidência pela federação, tem feito críticas públicas ao presidente do PP, Ciro Nogueira. Segundo ele, Nogueira estaria tentando usar a federação para se projetar como vice na chapa do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Se você monta o maior time do país, é pra ser campeão ou vice-campeão?”, ironizou Caiado.
No governo federal, ministros das duas siglas resistem ao desembarque prometido da base de Lula. Celso Sabino (Turismo), do União, e André Fufuca (Esporte), do PP, sinalizam que pretendem permanecer nos cargos. A ordem da federação não afeta, porém, os espaços controlados por figuras influentes do centrão, como Arthur Lira (PP-AL), que comanda a Caixa Econômica Federal, e Davi Alcolumbre (União-AP), que tem influência sobre os ministérios das Comunicações e da Integração e Desenvolvimento Regional.
Pressionado pelo presidente do partido, Antonio Rueda, o União Brasil marcou para quarta-feira (8) uma reunião que pode resultar na expulsão de Sabino, caso ele não abra mão do ministério ou se desfilie. Rueda também se tornou alvo de notícias negativas — segundo depoimento obtido pela PF, um piloto afirmou que ele seria o verdadeiro dono de quatro aeronaves ligadas a investigados por lavagem de dinheiro para o PCC. O dirigente nega as acusações.
No PP, Fufuca deve continuar, mas aliados afirmam que ele perderá o comando da federação no Maranhão, o que pode enfraquecer seus planos de disputar o Senado em 2026.
Apesar de controlarem quatro ministérios, União e PP estão entre os partidos mais infiéis ao Planalto no Congresso, ao lado de MDB, PSD e Republicanos. Essas siglas de centro e direita apostam numa candidatura de Tarcísio para a Presidência. Aliados de Jair Bolsonaro dizem que a ex-primeira-dama Michelle seria o nome para vice, enquanto lideranças do centrão citam Ciro Nogueira e a senadora Tereza Cristina (PP-MS) como opções.
A entrevista de Ciro ao jornal O Globo, na qual ele disse que a direita tem hoje apenas dois nomes viáveis — Tarcísio e Ratinho Jr. (PSD) —, irritou Caiado. O governador respondeu com duras críticas nas redes sociais, acusando Nogueira de “se oferecer de forma vergonhosa” para ser vice e questionando sua lealdade política:
“Esse cidadão não tem credibilidade para descredenciar a minha candidatura. Ele quer usar a federação para se cacifar como vice, isso não vai acontecer”, declarou.
Ciro respondeu com ironia: “Deve estar com tempo livre. Eu não. Sobretudo para polêmicas vazias. Nosso adversário é Lula. Caiado, pode falar qualquer coisa: você está certo. Satisfeito?”.
A federação entre partidos funciona como uma fusão temporária: após aprovada pelo TSE, as legendas atuam como um único partido por quatro anos, com estatuto e direção comuns. Atualmente, há três federações em vigor no país: PSDB–Cidadania, PSOL–Rede e PT–PCdoB–PV.
Por Agência Brasil…